20/07/2005

Carta escrita no ano 2070

Lake

Ano 2070, acabo de completar os 50, mas a minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água e creio que me resta pouco tempo de vida. Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade. Recordo-me de quando tinha apenas 5 anos, tudo era muito diferente, havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro com cerca de uma hora. Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele. Antes, todas as mulheres mostravam as suas formosas cabeleiras. Agora, devemos rapar a cabeça para a manter limpa sem água. Antes, o meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira. Hoje, os meninos não acreditam que a água se utilizava dessa forma. Recordo-me que havia muitos anúncios que diziam CUIDA DA ÁGUA, só que ninguém lhes ligava; pensávamos que a água jamais se podia terminar. Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos acuíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados. Antes, a quantidade de água indicada como ideal para beber era oito copos por dia por pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo; tivemos que voltar a usar os poços sépticos (fossas) como no século passado porque as redes de esgotos não se usam por falta de água. A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a capa de ozono que os filtrava na atmosfera, imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados. As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte. A industria está paralizada e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam-te com agua potável em vez de salário. Os assaltos por um bidão de água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética. Pela ressequidade da pele, uma jovem de 20 anos está como se tivesse 40. Os cientificos investigam, mas não há solução possivel. Não se pode fabricar água, o oxigénio também está degradado por falta de árvores o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações. Alterou-se a morfologia dos espermatozoides de muitos individuos, como consequência há muitos meninos com insuficiencias, e deformações. O governo até nos cobra pelo ar que respiramos. 137 m3 por dia por habitante e adulto. A gente que não pode pagar é retirada das "zonas ventiladas", que estão dotadas de gigantescos pulmões mecanicos que funcionam com energia solar, não são de boa qualidade mas pode-se respirar, a idade média é de 35 anos. Em alguns países ficam manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exercito, a água voltou a ser um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou os diamantes. Aqui em troca, não há arvores porque quase nunca chove, e quando chega a registar-se uma precipitação, é de chuva ácida; as estações do ano têm sido severamente transformadas pelas provas atómicas e da indústria contaminante do século XX. Advertia-se que havia que cuidar o meio ambiente e ninguém fez caso. Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem descrevo o bonito que eram os bosques, falo da chuva, das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse, o saudável que era a gente. Ela pergunta-me: Papá! Porque se acabou a água? Então, sinto um nó na garganta; não deixo de sentir-me culpado, porque pertenço à geração que terminou destruindo o meio ambiente ou simplesmente não tomámos em conta tantos avisos. Agora os nossos filhos pagam um preço alto e sinceramente creio que a vida na Terra já não será possível dentro de muito pouco porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversivel. Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isto quando ainda podiamos fazer algo para salvar o nosso planeta Terra!

Documento extraído da revista biográfica "Crónicas de los Tiempos" de Abril de 2002.

6 comentários:

Rosa disse...

:(((((((((((((

Anónimo disse...

Isto é muito deprimente... é muito pesado para mim. Sabes que mais, eu acho q tá completamente certo. Mas não sou eu que vou mudar o Mundo. Se aqueles que realmente podem fazer diferença não se mexem não somos só nós que vamos conseguir. Vamos chegar a velhos e pensar Fod***-se! Andei eu a fazer tantos sacrifícios e acabámos na mesma mer***. É claro q se podem evitar certas coisas, mas sacríficios não faço.

Anónimo disse...

Claro que me esqueci de assinar

Marisa

Anónimo disse...

Que cenário tão deprimente, mas, pelo andar das coisas, é para isso mesmo que caminhamos :(

André Mendes disse...

É como se costuma dizer: "É triste, mas é verdade"

Marisa, sacrificios também acho que não, mas há coisas com que passei a ter bastante cuidado, nomeadamente com as horas que passo no banho...

Anónimo disse...

Pois... mas lá em casa infelismente sempre tivémos que ser muito poupadinhos em tudo por outras razões. Nunca tive "vícios" desses.
Marisa